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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Gabriel Chaboudt: O Anjo Moleque

Concordo plenamente com o poeta quando ele diz que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração”. Hoje eu fiz questão de ouvir esta música de Milton Nascimento chamada Canção da América para me despedir de uma pessoa querida que, na verdade, era muito mais que um simples amigo.
    Gabriel Chaboudt era muito mais. Quem teve o privilégio de conviver com ele sabe que ele era uma pessoa especial. Ele era o filho amado que toda mãe e todo pai gostariam de ter. Aquele neto exemplar que é o xodó e o chamego dos avós. Aquele sobrinho adorado pelos tios. Aquele primo estimado e querido pelos demais. Aquele amigo que os amigos adoram de paixão. Aquele colega de trabalho alto astral, companheiro que alegra o ambiente. Aquele jovem diferenciado em sua geração. Aquele jovem cheio de fé e apaixonado por Jesus. Na verdade, ele era uma dessas pessoas que nos parecem ser únicas: Gabriel era único!
     Gabriel é nome de anjo. Aquele que apareceu à Maria, anunciando que ela seria a mãe de Jesus, o Salvador, e trouxe as boas novas para a humanidade. Todos nós sabemos que anjos são seres espirituais. Contudo, vale dizer que, em certas ocasiões, Deus coloca em nossas vidas “anjos” de carne e osso, como o nosso querido e amado Gabriel Chaboudt. Seu nome é de origem hebraica e significa “enviado de Deus”. Com toda certeza ele foi enviado por Deus a este mundo para enriquecer as nossas vidas com a alegria que lhe era peculiar: Elétrico, sorridente, alma transparente, homem de bom coração. Meu querido Gabriel. Nosso querido e amável Gabriel.
    Gabriel partiu inesperadamente: nosso “anjo ligeiro”. Diante dessa partida repentina, conseguimos compreender um pouco do Salmo 90 quando nos diz que “todos os nossos dias se passam... acabam-se os nossos anos como um breve pensamento... porque tudo passa rapidamente e nós voamos”. Por ocasião da partida, Rossana me disse: “Sérgio, pena que eu falei tão pouco com Gabriel ao telefone ontem à noite”. Este é o sentimento de todos nós. Infelizmente, na regra do jogo da vida, raramente sabemos quando é a hora da partida. E é justamente nesse momento que o desejo do “algo mais” nos toma de assalto. Uma palavrinha só a mais... quem sabe mais um sorriso... só mais um abraço... só mais uma história... mais uma abobrinha do Gabi... dá-lhe apenas mais um beijo carinhoso... apenas dizer-lhe pela última vez “eu te amo e você é importante demais para mim”. Somente quem ama de fato, traz em si o desejo disso que chamei de algo mais. Mas ele nos deixou dizer algo? Biel é anjo travesso, ligeiro e serelepe. Anjo com asas nos pés, que foi correndo para o colo de Deus.
    Considerando o que disse acima, sobre a fugacidade da nossa existência e a partida inesperada de Gabriel, aprendemos que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar, na verdade não há”. O tempo é hoje. O momento é agora. Ame seus familiares e valorize as pessoas que estão a sua volta. A vida passa ligeiramente.
    Gabriel, anjo moleque, esses últimos dias você encheu os nossos olhos de lágrimas; provocou um nó em nossa garganta, difícil de desatar; causou um aperto em nosso peito e nos sentenciou a essa dor no coração por sua partida. Isso é coisa de anjo sapeca, moleque e brincalhão. Porém, apesar de sua traquinagem sem graça, você precisa saber de uma coisa. Todos nós, familiares, parentes e amigos, insistimos em te amar, e te dizemos em uma só voz: Valeu por tudo, querido e amado Gabriel! Teu lugar é ao lado do nosso Deus e amado Pai. Somos gratos ao Senhor Jesus por sua vida em nosso meio. Você ficará guardadinho em nossas lembranças e em nossos corações. Um beijo carinhoso de todos aqueles que te amam.

Sérgio Fonseca

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Meu Mar Português


       Chuvas em Niterói. Jamais esquecerei a madrugada de hoje, dia 06 de abril de 2010. Meu dia anterior tinha sido tranqüilo. Uma segunda-feira comum. Fui à escola dar aulas. Depois encarei uma fila de banco por mais de uma hora. Para aproveitar o tempo na fila, tirei de minha bolsa um livro do poeta Fernando Pessoa, e li uma poesia que era um prenúncio do que eu e minha família (e muitas outras famílias) viveríamos horas depois. O título da poesia era Mar Português.
         Acordei num susto. Eram 2 horas da manhã do dia 06 de abril. Meu sobrinho ao telefone me dizia, “tio vem pra cá de pressa. A casa do tio Luis Paulo desabou; arrastou a casa de tio Nem; e só parou aqui na sala da casa de vovó. Eles estão nas casas. Vem correndo!” Levantei tonto de sono. Não sabia o que fazer. Orei com minha família, por meus irmãos, cunhadas, sobrinhos e meus pais. Tomei o elevador e desci para ir à casa de meus pais.
       Ao chegar na portaria do meu prédio, me deparei com um imenso mar. Estava completamente ilhado no prédio onde moro em Icaraí. Os carros, nas ruas, com água pela metade. Enquanto eu, por trás das grades do condomínio, contemplava absorto tudo aquilo que eu via e o que eu não via, confundindo as minhas lágrimas com o imenso mar de dor, angústia e impotência, que escorria silenciosamente por minha face. Eu ali. Mudo. Parado. Impotente. Não tinha como fazer nada. Eu apenas orava a Deus, pedindo que ele tivesse misericórdia de tantas famílias que passavam pela mesma situação que a minha família estava passando.
Foi quando me lembrei da poesia de Fernando Pessoa, que eu havia lido na fila do banco, na qual o poeta diz assim:

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
          
         Eu estou vivendo, com esta experiência, o “meu mar português”. Estou sofrendo a minha dor, a dor da minha família e a dor de tanta gente que não conheci; não conheço e jamais conhecerei. É o nosso Mar Português. Chorei pelo terremoto no Haiti. Senti profundamente a calamidade na virada do ano em Angra dos Reis. Fiquei estarrecido e sensibilizado com o terremoto no Chile. Hoje, peço licença para poder chorar o meu “salgado mar”, juntamente com tanta gente que sofre as perdas dos seus queridos que se foram de repente.
         Lembro-me que o poeta também disse “navegar é preciso...” Por isso, apesar dos pesares, insisto em navegar pela fé que tenho no Cristo vivo. Aquele que venceu a morte, e ressuscitou ao terceiro dia, nos revelando que apesar das perdas, há sempre na vida uma possibilidade de ressurreição e começar tudo de novo, por mais difícil que a realidade a nossa volta possa parecer. Quando cremos num Deus vivo, sabemos que por mais “salgado” que seja o nosso mar, ou ainda que tenhamos que enfrentar abismos e perigos, não podemos esquecer que todo mar espelha a beleza e a graça que vem dos céus. Isso é fruto da constante manifestação de um Deus vivo, amoroso, protetor, companheiro, consolador e capaz de nos ajudar a refazer a vida dia após dia. Jamais podemos nos esquecer que há um Deus vivo nos céus. Em contrapartida, até agora não sabemos por onde anda o prefeito Jorge Roberto Silveira.
Que o Senhor Jesus nos abençoe!
 Sérgio Fonseca