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Nosso objetivo neste espaço virtual é refletir sobre o comportamento humano no dia a dia. Para isso, utilizamos a força da palavra através de poesias, crônicas, vídeos e áudios. Pode entrar e ficar a vontade: A casa é sua!







sexta-feira, 31 de outubro de 2014

TARJA PRETA


TARJA PRETA

Cortei os pulsos
Me atirei da ponte
Mergulhei nas drogas
Morei com minha sogra
Pedi empréstimo no banco
Comprei cobertura em Ipanema
Namorei Juliana Paes
Fui noivo da Beyoncé
Casei com Bruna Marquezine
Toquei com Eric Clapton
Sou parceiro de Lenine...
Hoje, visto uma camisa de força:
Estou bem melhor!

Sérgio Fonseca

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ONDE ANDARÁ RODRIGO BUIÚ?





ONDE ANDARÁ RODRIGO BUIÚ?

Ontem eu encontrei algumas fotos. Já nem me lembro mais quantos anos eu tinha exatamente. No entanto, não esqueço de Rodrigo Buiú. Volta e meia, e por anos a fio, me pego questionando se Rodriguinho Buiú ainda está vivo e, se estiver, por onde andará.

Há tempos atrás, inicio dos anos 90, eu fazia um trabalho com meninos de rua no centro da cidade de Niterói, juntamente com alguns amigos. O projeto, que teve vários nomes, hoje é o Centro de Desenvolvimento da Infância e Adolescência (CCDIA). No meu primeiro dia de trabalho na rua, onde fazíamos as atividades com as crianças na antiga Vila Olímpica, onde atualmente fica o terminal rodoviário de Niterói, uma imagem me impressionou de forma marcante. Um grupo de mais ou menos 7 crianças, de idades variadas, e entre elas um garotinho de uns 5 anos de idade, como uma espécie de mascote do grupo.

A imagem a qual me refiro diz respeito ao garotinho negro, lindo, de 5 anos, cabelinho cacheado, olhos cor de mel, trajando uma camisa de malha encardida que era o triplo do seu tamanho, com o dedinho polegar na boca que não parava de chupar. De repente, com muita naturalidade, aquele anjinho negro tirou o dedo da boca, um cigarro do bolso, acendeu, tragou e soltou uma baforada como se fosse adulto. E eu, em meu primeiro dia de rua, pasmei! Ali, diante daquela realidade, comecei a entender o que era ter a infância roubada. Este menino era Rodrigo Buiú.

O tempo passava e eu via a violência das ruas deixando marcas no corpo e na alma de Buiú. Vi cicatrizes surgirem no rostinho dele como fruto da vida nas ruas. Os mais velhos batiam nele, e com o tempo ele descontava nos mais novos que chegavam na rua, como uma espécie de “lei da sobrevivência”. Embora trabalhasse com tantas crianças e gostasse dos moleques – Jorge, Paulinho, Gordinho, Alex e outros tantos – Buiú sempre foi especial para mim. Ele também tinha um carinho especial por mim, apesar dos outros “tios de rua”. Um dia, sem que ninguém soubesse, levei Buiú na minha casa. Tomou banho, viu televisão, comeu, bebeu... Mas depois nós dois tivemos que voltar para a realidade. Apesar disto, aquele dia foi um dia muito legal. Pena que ele não podia morar na casa dos meus pais.  
Em certo momento da minha vida eu tive que deixar o projeto e fui morar em Campinas para cursar Teologia. Nos anos que lá passei, Buiú nunca saiu do meu coração e nem da minha lembrança. Como eu havia visto muitas crianças morrerem na rua, volta e meia eu me perguntava: “Será que Buiú está vivo?” Meu coração nunca se apartou dele.

Após a conclusão do bacharelado em Teologia retornei a Niterói. Os anos haviam se passado... E Buiú onde estava? Ninguém, nenhum amigo das antigas conseguia me dar tal informação. Até que um dia encontrei o José Nilton, professor da UFF, que fez parte do projeto e me disse: “Serjão, eu vi o Buiú em Icaraí um dia desses. Acho que era ele sim.” Eu disse ao Zé Nilton: “Não acredito! Eu moro há anos em Icaraí e nunca vi o Buiú. Será que passei por ele, ele por mim, e nós não nos reconhecemos? Impossível.” Uma esperança tomou meu coração naquele momento: Reencontrar Rodrigo Buiú.

Desde então, passei a andar pelas ruas de Icaraí de olhos bem abertos e atentos. Só que eu não encontrava o Rodriguinho. Até que um dia eu encontrei uns garotos de rua vendendo balas e perguntei a eles de imediato: “Vocês viram o Buiú por aí? Buiú está na rua?” Um deles me perguntou cabreiro: “Por que tio? Quem é você?” Respondi: “Porque eu fiz um trabalho há muitos anos com meninos de rua e eu trabalhei com ele. O nome dele é Rodrigo e hoje ele deve estar com uns 18 anos.” Ao que o garoto respondeu: “Tio, ele está com 19 anos e guarda carros em Gragoatá. É Rodrigo mesmo o nome dele.” Eu saí dali feliz da vida porque Buiú estava vivo! Mas ao mesmo tempo eu pensava comigo: “Que país é este onde crianças crescem nas ruas?”

Fui por várias vezes em Gragoatá, onde o menino disse que Buiú guardava carros, mas nunca o encontrei. E só de falar nisso meus olhos se enchem de lágrimas. Eu tenho um sonho de um dia adotar uma criança e espero em Deus realizá-lo. Hoje, escrevendo este texto, após encontrar as fotos de Buiú me beijando, fico pensando se eu não fui um “pai” para ele e ele um “filho” para mim.

Ainda hoje me pergunto se Buiú está vivo e qual o paradeiro dele. Deve estar com uns 25, 26 anos. Será que ele lembra do tio  Sérgio? Será que quando a gente se encontrar ele vai lembrar de mim e eu dele ao cruzarmos os nossos olhares? Rodrigo, Rodriguinho, Buiú... Esteja você onde e como estiver, eu estou aqui te esperando com um beijo e um abraço guardados pra ti. Que Deus abençoe nós dois.

Sérgio Fonseca

domingo, 26 de outubro de 2014

LABIRINTO SEM FLORES


LABIRINTO SEM FLORES

Minha mente é
um labirinto sem saída,
onde vagueio entre
corredores e paredes brancas
que não me descrevem:
Apenas silenciam quem eu sou.

Vivo a procura de mim
e tudo o que sei é nada!
Milhares de perguntas
e todas elas sem respostas.

No centro deste labirinto
vejo que há uma mesa posta;
um jarro de cristal com água fresca;
e uma cadeira vaga
para abrigar o meu cansaço
de não conseguir dar conta de mim.

Quem dera, na vida, tudo fosse flores...

Sérgio Fonseca

URGÊNCIA


URGÊNCIA

Amanhã.

Amanhã?

Amanhã.

Amanhã...

Amanhã já foi!


Sérgio Fonseca

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

POBRE CORPO


POBRE CORPO

Encerrado
em mim?

Meu corpo
é minha cela?

Pobre corpo
que não me cabe.

Triste carne que
não me encerra,
tampouco detém.

Eu sou mais,
muito mais...
Eu vou além!

Sérgio Fonseca


terça-feira, 7 de outubro de 2014

GUARDA-ME


GUARDA-ME

Guarda-me...
Guarda-me
em teus olhos,
em teus pensamentos,
em teus poros,
em tua boca,
entre tuas pernas,
em tuas manhas,
em tuas manhãs,
em tuas entranhas...
Sobre tudo,
guarda-me
pra sempre
em teu coração!

Sérgio Fonseca




VESTIDINHO AMARELO


VESTIDINHO AMARELO

Jamais esquecerei
o dia em que eu te vi
com o seu vestidinho amarelo...

Suave e insinuante transparência
desfilando em minha frente.

Confesso, não minto:
Desejei toda a tua sinuosidade
e viajei em todas as tuas curvas.

Eu me senti como
um homem amarelo!

Tanto, que poderia
te revestir de mim.

Sérgio Fonseca