Chuvas
em Niterói. Jamais esquecerei a madrugada de hoje, dia 06 de abril de 2010. Meu
dia anterior tinha sido tranqüilo. Uma segunda-feira comum. Fui à escola dar
aulas. Depois encarei uma fila de banco por mais de uma hora. Para aproveitar o
tempo na fila, tirei de minha bolsa um livro do poeta Fernando Pessoa, e li uma
poesia que era um prenúncio do que eu e minha família (e muitas outras
famílias) viveríamos horas depois. O título da poesia era Mar Português.
Acordei num susto. Eram 2 horas da
manhã do dia 06 de abril. Meu sobrinho ao telefone me dizia, “tio vem pra cá de
pressa. A casa do tio Luis Paulo desabou; arrastou a casa de tio Nem; e só
parou aqui na sala da casa de vovó. Eles estão nas casas. Vem correndo!”
Levantei tonto de sono. Não sabia o que fazer. Orei com minha família, por meus
irmãos, cunhadas, sobrinhos e meus pais. Tomei o elevador e desci para ir à
casa de meus pais.
Ao chegar na portaria do meu prédio, me
deparei com um imenso mar. Estava completamente ilhado no prédio onde moro em Icaraí. Os carros, nas
ruas, com água pela metade. Enquanto eu, por trás das grades do condomínio,
contemplava absorto tudo aquilo que eu via e o que eu não via, confundindo as
minhas lágrimas com o imenso mar de dor, angústia e impotência, que escorria
silenciosamente por minha face. Eu ali. Mudo. Parado. Impotente. Não tinha como
fazer nada. Eu apenas orava a Deus, pedindo que ele tivesse misericórdia de
tantas famílias que passavam pela mesma situação que a minha família estava
passando.
Foi quando me lembrei da poesia de Fernando Pessoa,
que eu havia lido na fila do banco, na qual o poeta diz assim:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Eu estou vivendo, com esta experiência, o “meu mar português”. Estou sofrendo a minha dor, a dor da minha família e a dor de tanta gente que não conheci; não conheço e jamais conhecerei. É o nosso Mar Português. Chorei pelo terremoto no Haiti. Senti profundamente a calamidade na virada do ano em Angra dos Reis. Fiquei estarrecido e sensibilizado com o terremoto no Chile. Hoje, peço licença para poder chorar o meu “salgado mar”, juntamente com tanta gente que sofre as perdas dos seus queridos que se foram de repente.
Lembro-me que o poeta também disse
“navegar é preciso...” Por isso, apesar dos pesares, insisto em navegar pela fé
que tenho no Cristo vivo. Aquele que venceu a morte, e ressuscitou ao terceiro
dia, nos revelando que apesar das perdas, há sempre na vida uma possibilidade
de ressurreição e começar tudo de novo, por mais difícil que a realidade a nossa
volta possa parecer. Quando cremos num Deus vivo, sabemos que por mais “salgado”
que seja o nosso mar, ou ainda que tenhamos que enfrentar abismos e perigos,
não podemos esquecer que todo mar espelha a beleza e a graça que vem dos céus.
Isso é fruto da constante manifestação de um Deus vivo, amoroso, protetor,
companheiro, consolador e capaz de nos ajudar a refazer a vida dia após dia. Jamais
podemos nos esquecer que há um Deus vivo nos céus. Em contrapartida, até agora
não sabemos por onde anda o prefeito Jorge Roberto Silveira.
Que o Senhor Jesus nos abençoe!
Pastor,gostaria de deixar uma lembrança para o Gabriel mais não posso pois não sou membro do seu orkut.....
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