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Nosso objetivo neste espaço virtual é refletir sobre o comportamento humano no dia a dia. Para isso, utilizamos a força da palavra através de poesias, crônicas, vídeos e áudios. Pode entrar e ficar a vontade: A casa é sua!







terça-feira, 30 de julho de 2013

DIA ESTRANHO, HITCHCOCK

DIA ESTRANHO, HITCHCOCK
 
Manhã fria, estranha e nebulosa.
Da janela do quinto andar, vejo apenas
as copas das árvores do Campo São Bento.
Elas me cercam juntamente com
as árvores da rua Otávio Carneiro.
As imponentes palmeiras imperiais? Foram arrancadas.
Os passarinhos? Se esconderam não sei onde.
Os prédios ao redor? Sumiram todos.
As buzinas dos automóveis? Silenciaram.
O burburinho, a falação? Nenhum tico.
As pessoas lá em baixo? Foram abdusidas.
Há um silêncio profundo no mundo.
Só consigo ouvir a voz do meu pensamento.
Há uma densa neblina por todos os lados.
As luzes do corredor se apagaram.
O elevador parou em algum andar.
Será que eu estou aqui? Estou aqui.
Aguardo o meu primeiro paciente.
Algo me diz que ele não vai chegar.
 
Sérgio Fonseca

PAISAGEM NATURAL

PAISAGEM NATURAL
 
Cruzou a ponte Rio-Niterói
como lhe era de costume.
Naquele dia, ao descer na
Avenida Marquês do Paraná,
ficou pasmado diante da cena
assistida pela janela do carro,
no sinal vermelho.
Viu um homem de boa aparência,
trazendo no ombro sua caixa de isopor,
que por entre os carros, no sinal, gritava:
“Água! Ô água! Água só um real!”
 
O motorista não entendeu nada.
Tudo estava fora de lugar!
Era uma cena rara, raríssima.
Desatou a interrogar-se de modo recorrente:
“O que este homem está fazendo aí?
Será que ele está desempregado?
Será que ele tem mulher, filhos,
e família para sustentar?”
Compadecido, tocado e comovido
o motorista quase foi as lágrimas.
 
De repente, uma luz brilhou e
com ela novos questionamentos:
“Por que eu me compadeço deste homem,
quando na verdade há tantos outros homens,
neste mesmo sinal, vendendo água, flores,
chocolates e outras tantas coisas todos os dias?”
 
Foi quando o motorista caiu em si:
O vendedor de água era branco, loiro.
Já os demais ambulantes,
em sua grande maioria negros,
faziam parte daquela paisagem social cotidiana
como se aquele fosse o único lugar
que lhes coubesse ou lhes restasse.
 
Há muitas coisas
neste mundo de meu Deus
que a gente quase não vê...
que a gente quase
não consegue enxergar...
Apenas naturaliza.
 
Sérgio Fonseca

sexta-feira, 26 de julho de 2013

TABLETS, IPHONES E IPODS

TABLETS, IPHONES E IPODS
 
Meninos e meninas na rua, nas ruas.
Naqueles tempos as ruas nos pertenciam.
As ruas transbordavam de crianças, vida e alegria.
 
Brincávamos de roda
Ciranda Cirandinha, Pai Francisco,
Samba Lelê está doente, está com a cabeça quebrada...
 
Pulávamos carniça
Unha de Gavião, Pastelão... Ai!
Escrever Cartinha para a namorada
e quando a tinta acabava...
 
Jogávamos Guru, lembra?
Cinco pedrinhas nas mãos.
Uma voando em câmera lenta,
enquanto a mão ligeira pegava as demais.
 
Bola de gude!
Triângulo, cuidado para não “durá”!
Bulica, de buraco em buraco a gente chegava lá.
Matar e palmear a brinca ou Mata-mata a vera?
 
Pera, uva, maçã ou salada mista?
Isso tudo com direito a beliscões,
cutucadas, dedos entreabertos e
beijo na menina ou no menino dos sonhos.
 
Tudo tem o seu tempo, eu sei...
Vivo neste novo tempo também.
Mas depois dos tablets, iphones e ipods
as ruas andam mais vazias, silenciosas...
Até choram de saudades.
 
Sérgio Fonseca

quinta-feira, 25 de julho de 2013

CÓDIGO MORSE


CÓDIGO MORSE
Sinais de fumaça
Bilhetes na garrafa
Placas no oceano
Mensagens num aeroplano
Cartas sem endereço
Roupas pelo avesso
Anúncios na televisão

Sem você
Tudo em vão, tudo em vão,
Tudo em vão, tudo em vão
Sem você tudo é vão, vazio e solidão

Chuvas de pétalas de rosas
As palavras mais indecorosas
O Cristo Redentor
Por do sol no Arpoador
Futebol e carnaval
As manchetes do jornal
Email ou código Morse
Um tiro de canhão

Sem você
Tudo em vão, tudo em vão
Tudo em vão, tudo em vão
Sem você tudo é vão, vazio e solidão

Freud, Felline, Foucault
Leminsky, Pessoa e Rimbaud
Paulinho da Viola
Lupcínio, Noel e Cartola
As lutas de Mandela
As flores na janela
Ciência, arte, religião

Sem você
Tudo em vão, tudo em vão
tudo em vão, tudo em vão
Sem você tudo é vão, vazio e solidão

 Sérgio Fonseca

terça-feira, 23 de julho de 2013

DO PRINCÍPIO AO FIM

DO PRINCÍPIO AO FIM
No princípio
era o verbo,
palavras.
 
Ontem
o mistério,
encantamento.
 
Hoje 
a dúvida,
o silêncio.
 
Amanhã
não restará
nem pensamento.
 
Sérgio Fonseca

segunda-feira, 22 de julho de 2013

QUE VONTADE DE MATAR O INFELIZ


QUE VONTADE DE MATAR O INFELIZ

Entramos no site a meia noite. “Sinistro”, diria o meu filho Filipe. Digita daqui, digita dali e nada de ingresso para pista Premium. Letícia, minha filha que fará 14 anos, e que se acha a fã número 1 (como milhares de adolescentes), entra no Twitter e confirma que duas de suas amigas já haviam conseguido comprar os ingressos. Por volta de uma e meia da madrugada minha filha entra em desespero. Os ingressos haviam se esgotado no site. Lágrimas, mais lágrimas, um abraço e minhas palavras de consolo: “Filha, vamos dormir que amanhã eu vou ao Rio Sul e tento comprar o ingresso no posto de venda.”

Acordei hoje as seis da manhã. Tomei um banho, entrei no carro e atravessei a ponte. Cheguei cedo, mas encarei uma fila que eu vou te contar... Era um bando de adolescentes desesperadas, eufóricas, esperançosas, enlouquecidas, banhadas em lágrimas, frenéticas, excitadas e com o repertório do infeliz na ponta da língua e dentro dos meus ouvidos. Eu que já não aguentava mais, só pensava numa estratégia terrorista, para dar cabo daquele meliante disfarçado de cantor pop. Fui tomado por um espírito meio talibã, meio homem bomba. Só não ia dar mole de revelar minha estratégia ali na fila.

Quando os guardas liberaram o caminho, parecia a largada da São Silvestre, na velocidade 5. Foi então que eu pude perceber que teria que encarar a escadaria da Igreja da Penha sem ter feito promessa alguma. Subi três lances de escadas, que pareciam não ter fim, num pique impressionante! Eu me senti o próprio Rocky Balboa, do Stallone. Agradeci muito a Deus, ao meu cardiologista e a Arthur, meu personal, pelas atividades físicas e os circuitos realizados. Pai e mãe sem aptidão física não consegue comprar um ingresso hoje em dia não, minha gente.

Para que vocês tenham noção, eu vi uma vovozinha de cabelos brancos ser atropelada a galopes por potrancas de treze, catorze e quinze anos e eu não pude fazer nada, porque corria o risco de ser atropelado também. A mãe de uma menina reclamava, com um olho roxo, que os seus óculos, novinhos, haviam quebrado com um tapa que ela ganhou no meio daquele furdunço. Era olho por olho, dente por dente, cada um por si e tudo por um ingresso!

O que um pai não faz para ver a alegria estampada no rosto de uma filha querida? Eu consegui ser um entre os dez primeiros colocados. O negócio parecia até classificação de concurso público. Ao chegar no caixa tomei uma facada em dois atos: “Por gentileza, uma meia e uma inteira.” Quando a moça do caixa me disse o valor... Estrebuchei, agonizei, mas não morri... Só de raiva! Diante da minha agonia, jurei para mim mesmo: “Vou sobreviver, vou resistir, não vou me entregar... Só pra ter o prazer de matar o Justin Bieber quando ele pisar no Brasil em novembro”. Queridos, por favor, alguém pode me sugerir uma idéia do que faço com este infeliz? Brincadeiras à parte, nada se compara a alegria dos nossos filhos. Beijão deste Preto, pai e quase fã do Justin Bieber.

Sérgio Fonseca

 

 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

ASTERISCO

ASTERISCO
 
Um asteroide
ou um asterisco?
Uma montanha
ou um precipício?
Estrelas no céu
ou fogos de artifício?
Quinhentas laudas
ou um rabisco?

Meu amor,
me explique
por favor...
Quem eu sou,
sem o teu amor?
Eu não sei.
 
Não sei
por onde eu vou...
Mas irei
aonde você for.
Seguirei,
pois tudo que eu sei
é que sem o seu amor...
Nada serei.
 
Sérgio Fonseca



PRA QUALQUER LUGAR


PRA QUALQUER LUGAR

Minha flor,
um dia
sem te ver,
um ano
sem você,
é demais
pro meu
pobre coração!

Volta correndo,
com um sorriso
de felicidade no rosto,
e diz que me quer...
Minha flor,
diz que me namora!

Meu amor,
vamos embora
daqui pro Japão!
Que tal Marrocos?
Indonésia,
Madagascar,
Paquistão!

Vamos pra
qualquer lugar
onde a gente
possa se amar,
perder o tempo,
a dimensão,
sem se dar conta
de onde está...
Apenas ouvir
a voz do coração!

Sérgio Fonseca

PARA QUE SAIBAS


PARA QUE SAIBAS

Pense você o que quiser pensar.
Eu não estou nem aí.
Que se dane o mundo
e você também!

Você é chata,
inconveniente,
grudenta e
inoportuna!

Me aparece a qualquer hora,
não larga do meu pé...
Por favor, me deixe em paz!
Não me sai da cabeça, do coração...
Blandine, eu já não aguento mais!

Sérgio Fonseca
 
Uma homenagem à minha grande amiga e parceira de caminhada poética, Blandine Calazans. Só brincamos assim com gente muito querida e chegada ao nosso coração. Amigos(as) que nos dão  a liberdade de dizer que estamos com saudade deste jeito torto como eu disse. Amigos(as) com os quais podemos sorrir juntos pela vida. Blan, você é um presentão de Deus!!! rsss