MEIA
TIGELA
Quem
me dera
meus
poemas fossem
“sujos”
como o de Gullar...
Os
meus são limpos demais.
Escrevo,
escrevo, escrevo
e
continuo com a sensação
de
que não sei fazer poemas.
Pareço
criança perdida em quarto escuro,
tentando
alcançar a alma das poesias
que
por ironia vivem em mim.
A
vergonha me toma quando ouço
os
grandes poetas de ontem e de hoje.
Diante
de suas santas palavras, as minhas são
blasfêmias,
heresias, sacrilégios e pecados sem perdão.
Não
que eu tenha a pretensão
de
me tornar um Carlos Drummond.
Ainda
que por vezes me perca em delírios,
a
minha loucura é lúcida quanto ao óbvio:
Estou
infinitamente distante de tamanho talento.
Escrevo
por necessidade de estar vivo, são e só.
Coisa
de menino desatinado que não sossega o facho
e
dana a escrever as besteiras do coração, simplesmente
porque
acha que escrever é algo sublime de tão lindo.
Ao
escrever me aproximo de mim,
caminho
com os outros de mãos dadas
e
me vejo cada vez mais próximo de Deus.
Sou
poeta de meia tigela, mas de alma inteira!
Sérgio
Fonseca