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Nosso objetivo neste espaço virtual é refletir sobre o comportamento humano no dia a dia. Para isso, utilizamos a força da palavra através de poesias, crônicas, vídeos e áudios. Pode entrar e ficar a vontade: A casa é sua!







domingo, 31 de março de 2013

DITOS PRAPULARES


DITOS PRAPULARES

 

Cada macaco
no seu galho,
menos eu, marinheiro:
Eu não sou daqui.

Passarinho que
acompanha morcego
só voa a noite,
pelas madrugadas.

Mais vale
um coração na mão
do que dois flertando.

Quem sabe
a quentura da panela
não mete a mão
de qualquer jeito.

Porque
passarinho que come pedra...
sabe que vai sofrer um bocado.

Quando eu
atravessar aquela porta...
nem tente tocar
a campainha as avessas:
Inês é morta!

Sérgio Fonseca

sábado, 30 de março de 2013

AS SANTAS


AS SANTAS

 
Não me surpreendem as putas.
Estas que fazem da vida um bordel,
não me assustam.
Delas não tenho medo.

Tenho medo das santas.
Aquelas que, em silêncio,
se acabam no quarto,
se contorcem na cama
e debaixo do chuveiro.

Meu amigo,
se as santas te pegam...

 
Sérgio Fonseca

COISAS DO INCONSCIENTE


COISAS DO INCONSCIENTE

 

Como pode
Lédio Carmona
ser o pai da Gabriela Santoro
tendo ele a mesma idade que ela?

Como pode
a casa da Lenita
rachar de cima a baixo,
a parede da frente cair,
expondo a sala tão bonita?

Como pode
minha vó que já morreu,
ao lado de minha mãe,
vivinha da silva,
deitadas na mesma cama com
o meu filho que ainda não nasceu?

A noite passada eu tive
um sonho muito doido!

 
Sérgio Fonseca

 

quinta-feira, 28 de março de 2013

PODE SER


PODE SER

 

Pode ser
            que não seja.
Pode ser
            que não haja.
Pode ser
            que eu me engane.
Pode ser
            Ilusão.


Pode ser
            em silêncio.
Pode ser
            em poema.
Pode ser
            em midraxe.
Pode ser
            em canção.


Pode ser
            nas galáxias.
Pode ser
            no Evereste.
Pode ser
            na Malásia.
Pode ser,
             no meu coração.

 
Sérgio Fonseca

quarta-feira, 27 de março de 2013

CRISE DE IDENTIDADE


CRISE DE IDENTIDADE


Em certa ocasião fui ao Maracanã
ver o jogo do Vasco.
Um grupo de torcedores, ao me ver,
gritavam enlouquecidos:
"Carlos Alberto, hu! Carlos Alberto, hu!"
As tranças, na época,
sugeriam uma certa semelhança .

Acordei e resolvi levar
o meu terno a tinturaria.
De repente a atendente me diz:
"Estou te reconhecendo de algum lugar...
Você não é o vocalista daquele grupo de pagode?"
Poderia até ser,
mas tive que jurar que não era
antes que ela me pedisse um autógrafo.

Ao passar pela portaria do meu prédio,
para comprar pão numa manhã de sábado,
me deparo com três belas moças,
viradas e pra lá de doidonas.
Elas dão de cara comigo,
me olham de cima a baixo e uma delas diz:
“Uau! Carlinhos Brown!”
Percebia que me faltava o nariz
e também o talento do Brown.

 Eu estava sentado a mesa
de um restaurante com a minha família.
O clima descontraído, o cabelo de preto
e o meu sorriso escancarado,
colocaram uma pulga na orelha do garçom
que se sentiu no direito de me perguntar:
 "Você é baiano de qual cidade?"
Respondi rindo que era baiano de Niterói.

Um dia desses fui levar o carro pra lavar.
Enquanto aguardava a minha vez,
ouvia Lenine, Marisa Monte e outros.
Um funcionário do posto, após ter me olhado
e passado por mim várias vezes, não se conteve.
Ele se inclinou na janela do meu carro e
(com toda a seriedade deste mundo)
me perguntou: "Você é parente do Gilberto Gil?"
Estupefato e sem entender nada,
disse a ele, educadamente, que não.

Afinal de contas
quem sou eu?

Gente querida,
pelo amor de Deus...
Eu sou Sérgio Fonseca!

Sérgio Fonseca

QUEM NÃO QUER


QUEM NÃO QUER...

Aos minimalistas
minhas sinceras desculpas,
mas não quero o meu mundo assim
tão clean...
Tão ausente de cores,
tão blasé...

Este mundo serve pra você?
Tudo bem...
Bom proveito. 
Aproveite não sei o quê.
Quanto a mim eu quero é mais.

Quero pipas coloridas enfeitando
um céu azul de domingo.

Quero doce de leite com côco
e doce de abóbora também.

Quero envelhecer sugando leite condensado,
na lata, feito criança, só pra não perder o sabor da infância.

Quero poder retribuir os abraços sinceros
de gente querida que caminha comigo na vida.

Quero poder me alegrar com as coisas simples
e ter o direito de falar abobrinhas
só pra quebrar o gelo daquelas pessoas sisudas
que levam a vida tão a sério.

Quero poder contar piadas sem graça,
contando sempre com a camaradagem
dos amigos que morrerão de rir.

Quero mais generosidade e empatia
para estender a mão ao aflito, ao necessitado.

Quero sempre a incansável capacidade de me indignar
e poder lutar contra as desigualdades sociais.

Quero que jamais me falte o bom humor
pra driblar os infortúnios já que estes são inevitáveis.

Quero fechar a porta do meu quarto e experimentar
a presença de Deus se renovando em minha vida
através de momentos íntimos de oração.

Quero ver meu time ganhar ou perder,
sem jamais deixar de torcer
e bater no peito com orgulho dizendo
aos quatro cantos que sou vascaíno.

Quero vigor suficiente para sustentar os
meus netos nos ombros com o mesmo sorriso
e amor que ofertei aos meus filhos.

Quero intermináveis beijos de língua
da mulher amada em manhãs, tardes, noites
e madrugadas indecentes.

Quero mais inspiração, histórias e poesias.
Quero todo tesão do mundo
pra ter coragem de colorir a vida em cada instante!

Quero mais, mais e mais:
Eu quero sempre mais!
E quem não quer?

Quem não quer
está morto,
caminhando torto,
numa estrada em linha reta.

Sérgio Fonseca

 

 

sexta-feira, 22 de março de 2013

ONDE MORA O DESEJO


ONDE MORA O DESEJO

E assim passavam-se os dias.
A sexta-feira resumia-se
numa hora ligeira,
sem antes nem depois:
Apenas o durante.

O sábado se arrastava
em minutos intermináveis
de pensamentos fixados
na vontade de encontrá-la.

O domingo,
que não chegava nunca,
escondia-se num lugar distante
chamado desejo,
que mora em mim.

 
Sérgio Fonseca

 

SAUDADES


SAUDADES

Meus olhos
miram o azul do céu.
Meu grito doído
ecoa para além do infinito.
Sua ausência é castigo,
sua lembrança consolo.
Poço sem fundo é o meu coração.
Trago em silêncio as dores do mundo.
Por isso, falo comigo baixinho:
De tudo quanto tenho saudades...
Nada se compara a falta que Alzira me faz!

Sérgio Fonseca


sexta-feira, 15 de março de 2013

AO POR DO SOL


AO POR DO SOL

Certo dia,
vovô Carlos,
ainda na cama,
me falava sobre
GENEROSIDADE.
E de repente o sol se pôs...

Algum tempo depois,
meu pai escorregou
numa casca de banana
que eu havia jogado no chão.
E ele me falou sobre
EDUCAÇÃO, DIÁLOGO E COMPREENSÃO.
E de repente o sol se pôs...

Quando eu tinha uns treze anos
meu tio Luiz Carlos,
o primeiro a cursar
uma universidade
na minha família, me disse:
ESTUDE E APRENDA!
E de repente o sol se pôs...

Vovó Alzira,
Caminhou comigo
de mãos dadas pela vida
me ensinando lições práticas de
SABEDORIA E GENTILEZA.
E de repente o sol se pôs...

Todos eles partiram de repente,
mas permanecem vivos dentro de mim.
Um dia, quando o meu sol se puser,
espero que os meus filhos
me levem assim dentro de si:
Com ALEGRIA!

Sérgio Fonseca

COISAS DE MENINO


COISAS DE MENINO

Amanheci pensando em você
Feito menino, moleque levado,
que só de imaginar sorri entre os lábios:
Entrarei por baixo de sua saia.
 
Brincarei de ciranda,
subirei por suas pernas,
me agarrarei em sua cintura,
me esconderei entre suas coxas
e dali nunca mais sairei.

Estarei por baixo de sua saia:
Silenciosa e sorrateiramente.
Como quem rouba fruta no quintal,
como quem se deleita,
como quem se lambuza,
como quem faz festa.

Anoitecerei por baixo de sua saia
e enfeitarei o seu céu com estrelas.
Enquanto você, feito menina encantada,
sonha acordada e sorri entre os lábios...
Até que adormeça em meus braços.

Sérgio Fonseca

domingo, 3 de março de 2013

BAIÃO DE DOIS
Mesa farta e
repleta de sabores.
O forró comendo solto
enquanto eu me acabava
num baião de dois.
 
Bandeirinhas coloridas
enfeitavam a minha cabeça
anunciando a chegada de março
como um São João fora de época.
Falação de tudo que é lado
e tudo muito alto.
 
No palco a sanfona, a zabumba, o triângulo
e uma morena bonita da saia rodada
cantando “a ema gemeu”:
Salve Jackson do Pandeiro!
 
Morena, quem diria...
Logo eu que mal fui à Bahia,
nunca fui a Pernambuco
e pouco conheço o Nordeste...
Hoje sonho com os teus recifes,
Anseio por ti Olinda
e desejo o teu agreste.
 
Eu, neto de um cabo-verdiano,
filho de pais cariocas,
nascido em Niterói,
descobrindo as minhas
raízes nordestinas que
se encontravam sei lá aonde.
É por isso que eu amo a
Feira de São Cristovão!
 
Sérgio Fonseca

sábado, 2 de março de 2013

PALAVRAS

PALAVRAS
 
Se eu tivesse o talento de Picasso,
as cores e as loucuras de Dali,
ou quem sabe as pinceladas de Monet...
Te traduziria em traços, riscos e rabiscos
só pra te ver sorrir.
 
Quem me dera a genialidade de Rodin:
Te esculpiria em mármore!
Mármore moreno.
Na suavidade do meu toque
delinearia os contornos do seu rosto
e esculpiria os seus lábios com doçura;
daria vida aos seus cabelos
e desceria pelo vão de sua nuca;
dotaria os seus ombros de força e beleza,
acariciaria o teu colo com leveza,
e contornaria por milhares de vezes os seus seios;
deslizaria lentamente pela serra de sua barriga;
com mão cheia daria forma as suas coxas;
moraria entre as suas pernas
e me deleitaria em sua felicidade.
 
Como não tenho o talento dos traços,
das cores e das formas...
Traduzo o que sinto,
traduzo o que vejo,
traduzo o meu desejo
em palavras.
 
Sérgio Fonseca
 

ALMA FEMININA



ALMA FEMININA

 

A culpa é de mamãe!
Enquanto me trazia no ventre
sonhava com menina
e me gestava a alma.

Enxoval cor de rosa,
cabelinho enfeitado
com laços de fita,
Sonhos de mãe.

Para a surpresa de dona Estela
nasci com os meus penduricalhos.
Ao nascer minha mãe disse: Caralho!
E foi correndo refazer o enxoval.

Mamãe imediatamente foi à luta.
Aliás, já estava na batalha desde cedo.
Aos nove anos de idade
carregava uma trouxa de roupas na cabeça,
porque um dia se encantou com uma bicicleta.
Queria ter uma. Que ousadia da menina!
Filha de família pobre,
sonhando com bicicleta...

O que lhe restava?
Lavar roupas pra fora
e amealhar alguns trocados.
Foi o que ela fez!
Pagou pelos seus sonhos de menina,
com ousadia de mulher!

Por conta das lutas e das lidas de mamãe;
por conta do leite que eu carecia...
Fui criado por vovó!
E menino criado por vó
todo mundo sabe como é.

Muito zelo, muito mimo, fino trato,
sutilezas, gentilezas e embaraços.
Hoje deu no que deu,
sou o que sou:
Amante da vaidade,
sensível a beleza da flor,
choro quando vejo filmes românticos,
adoro poesia,
e discuto a relação!

Confesso que as vezes chego a pensar:
Será que um dia irei menstruar?

Eu, negão,
não abro mão
dos meus penduricalhos:
Esta é a minha sina!
Mas agradeço muito
a minha mãe e a minha avó
por terem gestado em mim
essa alma feminina.

Sérgio Fonseca