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Nosso objetivo neste espaço virtual é refletir sobre o comportamento humano no dia a dia. Para isso, utilizamos a força da palavra através de poesias, crônicas, vídeos e áudios. Pode entrar e ficar a vontade: A casa é sua!







sexta-feira, 19 de outubro de 2012

REVELAÇÃO ONÍRICA



REVELAÇÃO ONÍRICA

Ela me veio
dos porões da mente...
Lá pelas tantas,
no escuro da noite,
no silêncio do mundo,
e na quietude das almas.

Trazia esmeraldas no olhar:
Olhar que me sorria.
Estava na cara:
Desejava-me na cama,
na carne, nos poros
e por todos os orifícios do meu corpo.
Devorava-me com os olhos
e por dentro me consumia!
 
Seus lindos cabelos de brisa
coroavam o belo corpo
de bronze, polido e macio:
Extremamente desejável.

Mulher-Serpente
de seios fartos
e contornos precisos.
Irresistivelmente
ela fervia entre as pernas.
Com água na boca,
despiu-se por completo,
deitou-se ao meu lado
e me deu um beijo
com gosto de carmim:

No silêncio da noite,
em sonho,
a Poesia me chegou assim!

Sérgio Fonseca

terça-feira, 16 de outubro de 2012


 POEMA PARA CARMEM

Quem me abre as portas da Casa,
nas manhãs de poesia,
e com um sorriso no rosto
me oferece um café?
Quem é esta mulher?
Carmem, Carmem, Carmem.

Carmem é feita de café:
Dos melhores grãos, tipo exportação.
Carmem põe a mesa como ninguém:
Café, leite, chá, bolo, pão,
bolachas, bolachas, bolachas, bolachas...
Eu digo: Basta, Carmem! Basta!
Não maltrate este pobre coração.

Enquanto a poesia toma conta da sala
na cozinha Carmem se disfarça de feijão.
Mulher feiticeira, senhora das alquimias,
domina a ciência dos temperos com maestria.
Refoga o alho e doura a cebola
no azeite fervente do seu caldeirão:
E que caldeirão...
Mexe, remexe, mexe, remexe, mexe
Eu digo: Pára, Carmem! Pára!
Assim não!

Carmem é feita de pimenta!
Pimenta de cheiro, pimenta de chão.
Malagueta em forma de gente.
Mulher que arde na boca,
arde na língua, arde nos olhos:
Faz o sujeito chorar de tanto prazer.
Pimenta arretada, danada de boa...
Seduz com um sabor diferente.
E eu digo: Basta, Carmem! Basta!
Não maltrate este pobre coração carente.

Algumas delícias são de comer rezando;
outras delícias são de comer chorando;
outras tantas são de comer sorrindo.
E Carmem conhece todas as delícias:
Possui a receita de cada uma delas.
Já que é assim, Carmem...
Que me faças rezar,
que me faças chorar,
que me faças sorrir!
E se preciso ainda for,
que me faças implorar assim:
Carmem, Carmem...
Prepare um banquete só pra mim!

Sérgio Fonseca
 
Carmem é a cozinheira da Casa Poema. Querida por todos que frequentam a Casa, Carmem recebe a todos com muito carinho e simpatia. E como se não bastasse é uma excelente cozinheira. Presto à Carmem a minha homenagem!
 

 

domingo, 14 de outubro de 2012

BEM DITO, SARAMAGO!


Bem Dito, Saramago!

Pra quem não sabe
já fui escoteiro.
E por isso ando sempre alerta!
Vaidades?
Carrego sim algumas comigo
como cada um de nós
carrega as suas.
Volta e meia encontro
quem me diga:
“Que bela voz...”
A estes meus sinceros
(e exaustos) agradecimentos.
Mas eu, que já fui escoteiro,
estou sempre alerta...
Agradeço, mas não caio nessa.

A mim pouco importa
a beleza da voz:
Meu papo é outro!
Eu que não sou bobo
de deitar no berço esplêndido
da sonoridade vocal
que em mim habita.
Tampouco desejo
a pretensa e inglória tarefa
de perfumar a flor ou,
como se pudesse,
emprestar beleza a palavra escrita.

Em certa ocasião
ouvi o Mago dizer
(com sua voz cansada)
que o milagre da palavra,
a verdadeira palavra,
é a palavra dita:
Aquela que se pronuncia.
Caso contrário, dormem as palavras.
Salve José SaraMago!
Desde então resolvi me tornar
escravo, servo e vassalo da palavra:
Servi-la da forma mais bonita!

Deus meu,
que amanheça em mim
o espírito da poesia;
que a palavra me venha
do útero que não tenho;
das entranhas que possuo;
da libido que me assanha;
do coração que em mim grita.
Que eu encarne o verbo!
Seja eu um peregrino da pronuncia
e que ao falar haja graça e gere vida:
Liberte os cativos,
console os desesperados,
ilumine os cegos,
cure os feridos de alma,
provoque indignação nos conformados,
faça gargalhar os homens sérios
e despertar a mulher adormecida.

Senhor,
Eu quero acordar as palavras,
amanhecer as crianças, homens e mulheres:
Quero em mim o milagre da palavra poética
bem dita e bendita!

Sérgio Fonseca

 
“E devo dizer que o milagre da palavra, que a verdadeira palavra é a palavra dita, é a palavra que se pronuncia. A palavra que está estendida no papel é uma palavra que dorme.” (José Saramago, à Escola Lucinda de Poesia Viva)

Confira as palavras de Saramago em vídeo no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=23yvjcgpZ5I
 

 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

EU-MENINO-PAI



EU-MENINO-PAI


Eu, menino ainda,
do pinto pequeno,
do bico de chaleira
que prendia no fechecler,
e me fazia ir à lua e por lá ficar;
menino que dona Alzira, minha avó,
vinha correndo socorrer,
enxugando carinhosamente
as lágrimas que rolavam
pelas bochechas rechonchudas,
já queria ser pai!

Eu, menino ainda,
quase sem testículos,
sem ao menos uma gota de esperma,
ainda sem amor de infância,
casado com as bonecas da minha prima,
brincando com os amigos,
pulando carniça, jogando bola
e andando de bicicleta...
Já sonhava em ser pai!
 
Eu, menino ainda,
aprendendo o ABC na casa de dona Luci,
conheci o meu primeiro amor de carne e osso:
Rosemere foi a minha primeira professora!
Com ela eu iria me casar e ter filhos,
se não fosse o fato dela já ser casada
com o filho da dona Luci
e ter os seus próprios filhos.
Sonhei em ser pai ao lado dela,
mas ela não entendeu a minha história de amor:
Nunca me disse uma palavra a respeito!

Eu, menino ainda,
sem pai,
sem o nome do pai,
sem um “feliz aniversário”,
com a certidão de nascimento em branco,
com uma ausência infinita,
com uma dor só minha,
com um silêncio sufocante,
com milhares de perguntas sem respostas,
mas por querer fazer tudo diferente...
Continuava sonhando em ser pai!

Eu, menino ainda,
agora um pouco crescido,
com espinhas no rosto
e pelos no corpo,
conheci amores:
Deitei-me em suas camas,
amei sem saber como se ama,
aprendi como se faz fazendo,
troquei carícias e me deleitei,
mas nunca sonhei em ser pai de qualquer jeito:
Por isso nunca fui e jamais serei!

Hoje, homem-menino ainda,
casei com a mulher que amei e escolhi.
Gerei uma menina no útero que não tenho
e quando ela nasceu quem chorou fui eu!
Ainda ontem brincávamos de boneca, de casinha...
Hoje ela já sonha com amores!
No mesmo útero, gerei um menino:
Filho do meu coração!
Exatamente hoje, 4 de outubro,
ele completa 10 anos de idade.
E eu que nunca ganhei do meu pai
um parabéns sequer...
Posso dizer ao meu filho:
Feliz aniversário!

Eu, menino ainda,
a cada dia aprendendo a ser pai.

Sérgio Fonseca



 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CINCO SENTIDOS



CINCO SENTIDOS
(Sérgio Fonseca)


Amar
é pra quem tem olhos além de si
e pra quem percebe o outro.
Caso contrário, tudo é muito pouco!

Amar
é pra quem passeia por um lindo jardim
e consegue distinguir o perfume da flor:
Ao amar, com taquicardia, sente o cheiro do amor!
 
Amar
é pra quem tem tato, pra quem roça a pele sem tempo,
pra quem desvenda o corpo alheio sem medo.
Pois no ato faz do outro único: O ser mais desejado!

Amar
é pra quem tem gosto apurado na ponta da língua,
pra quem tem paladar, e ainda que faminto,
saboreia, degusta com vagar, pois tempo não há.
 
O amor,
o ato de amar,
se faz com todos os sentidos,
inclusive com as palavras susurradas ao pé do ouvido.

Definitivamente:
Amar não é pra qualquer um!

Sérgio Fonseca