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Sejam bem-vindos ao blog Salada Mista!!!







Nosso objetivo neste espaço virtual é refletir sobre o comportamento humano no dia a dia. Para isso, utilizamos a força da palavra através de poesias, crônicas, vídeos e áudios. Pode entrar e ficar a vontade: A casa é sua!







quarta-feira, 28 de agosto de 2013

GOSTO NÃO SE DISCUTE

GOSTO NÃO SE DISCUTE

Eu gosto do tempero,
pimenta.
Eu gosto do molho,
picante.
Eu gosto da carne,
desejo.
Eu gosto do beijo.

Eu gosto do fogo,
queimando.
Eu gosto da cama,
ardendo.
Eu gosto da palavra,
indecente.
Eu gosto da gente.

Eu gosto com força
e ternura.
Eu gosto com sede
e loucura.
Eu gosto de você
e de mim.
Eu gosto assim.

Sérgio Fonseca


A foto que ilustra a minha poesia é uma escultura em mármore, extremamente realista, feita por Gian Lorenzo BERNINI, O Rapto de Proserpina.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

DEIXA

DEIXA

Deixa eu ser a sua trilha,
o seu atalho, o seu chapéu de palha,
a sua veste cáqui, as suas botas pretas,
o seu facão de corte, a sua bússola,
o seu norte por onde fores.

Deixa eu ser o seu caminho,
o seu pão, o seu vinho, a sua comunhão,
o seu pé de coelho, o seu amuleto da sorte,
o motivo constante da sua oração.

Deixa eu ser a sua estrada,
o seu longo percurso pela madrugada,
a razão da sua respiração ofegante,
o seu passo a passo sem pressa, 
o seu itinerário, o seu destino inexorável.

Deixa eu ser o seu céu,
o seu dia de sol mais bonito,
o seu azul infinito, a sua noite estrelada,
o seu Cruzeiro do Sul, a sua Via Láctea,
a sua viagem intergalática.

Deixa eu ser o seu diário,
o seu livro de cabeceira,
o seu dicionário, a sua gramática,
a sua poesia fora de métrica,
a sua palavra mais romântica...

Deixa?


Sérgio Fonseca

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

BOCAS E TETAS

BOCAS E TETAS

Brancas foram as bocas que
me chamaram de preto vida afora.
Foram tantas, tantas, tantas
que perdi a conta.

Brancas foram as tetas que
amamentaram e alimentaram
a minha boca preta e faminta.
Delas não me esqueço.

Tanto, que ainda hoje
quase ouço as cantigas de Teresa,
que me envolvia em seus braços
e me embalava com ternura maternal.

Quase vejo os olhos de Teresa
marejados de alegria,
enquanto o pretinho faminto
lhe sugava a vida do bico do peito.

Ainda sinto o gosto
da gota de leite
que me escorria morna
pelo canto da boca.

A gota branca deslizando suave
como um carinho sobre a pele
da criança preta, pretinha...
de barriguinha e coraçãozinho cheios.

Entre as bocas que me praguejavam
e as santas tetas que me alimentavam,
eu fui crescendo, crescendo e crescendo:
Preto, forte, terno e de coração cheio.

Sérgio Fonseca




sábado, 17 de agosto de 2013

RETRATO 3X4

RETRATO 3X4
 
Pretinho por fora e por dentro.
Plantinha regada no silêncio.
Moleque com um brilho no olhar.
Sou exatamente assim:
Neguin, neguin, neguin!
 
Sérgio Fonseca
 
 

BUQUÊ DE FLORES

BUQUÊ DE FLORES

Hoje eu acordei assim, de mãos vazias,
mas com um buquê de flores na alma.

Irão dizer que eu sou louco. Eu sei disso.
Mas o que fazer com o meu buquê?

Eu que não irei jogar minhas flores no lixo,
em nome da sanidade de quem não planta uma semente.

Não me desfaço do meu buquê, nem por um decreto.
Coisa boa, quando floresce na alma, é riqueza!

E riqueza só faz sentido quando se compartilha.
Caso contrário, é avareza ou miséria de espírito.

Tenho pena de gente assim...
Sem um buquê, sem flores e sem jardim.

Sérgio Fonseca






terça-feira, 13 de agosto de 2013

JUREMA NA FAXINA

JUREMA NA FAXINA

Jurema, dona de casa zelosa ao extremo, tinha a certeza que um dia iria para o céu. Dava conta da casa de quatro quartos, de seus três filhos e do marido Benedito: Mas tudo isso aos berros! Ela até podia ir para o céu, mas fazia da casa um desassossego. Não podia ver nada fora do lugar que começava a ladainha:

- De quem são estas sandálias? Olha os livros em cima da mesa! A toalha embolada sobre a cama! De quem é o prato sobre a pia?

A mulher não parava por nada. Até o Criador descansou no sétimo dia... Porém, Jurema não. Isso por escolha própria. Para ela não havia sábados, domingos, nem feriados.

Um dia, estressada enquanto arrumava a casa, sofreu um infarto fulminante. Caiu durinha na sala, agarrada ao cabo da vassoura. Se havia algo nesta vida que ela era apegada, era a maldita vassoura da qual não se apartava. Parece até que fazia um curso intensivo de bruxa. Jurema bateu as botas sem levantar poeira. A família chorou... Mas deu graças a Deus!

A certeza de Jurema se cumpriu: Acordou no céu e deu de cara com o Todo Poderoso! Com a vassoura nas mãos, olhou para um lado e para o outro e viu milhares de anjos de todos os tipos. Ao redor do trono do Criador, haviam arcanjos e querubins. A mulher, abraçada a vassoura, pensou:

- Lá em casa era só o Benedito e as crianças.
  
Quando Jurema se deparou pelo meio do caminho com as harpas,  as flautas e os símbalos sonoros, gritou:

- Quem foi que deixou isso aqui fora do lugar?

Arcanjos e querubins tremeram; as asas dos anjos murcharam; o coro celestial calou congelado. Houve um profundo silêncio no céu, durante três minutos. Até que, de repente, Jurema esbravejou:

- Quero um balde, pano de chão e desinfetante com urgência!

Perguntou onde ficavam o banheiro, a cozinha e os quartos. Teve a cara de pau de distribuir aventais, baldes, panos de chão e vassouras para os arcanjos e querubins. Por fim, exigiu “bom ar” para os aposentos divino. E o céu já não era mais o mesmo...

Foi então que o Filho do Homem disse:

- Basta! Vade retro Satanás!

E a paz tornou a reinar no céu.

Hoje em dia, dizem os anjos, ela mora com o capeta, mas faz da vida dele um verdadeiro inferno!

Sergio Fonseca







CURTA E GROSSA


CURTA E GROSSA

As vezes a vida é curta e grossa.
Fatal como uma lamina na aorta.
Breve como o degelo de um floco de neve.
Sem graça como a cara do Woody Allen.
As vezes a vida é filha da puta:
Ela nos pega de surpresa e apronta!


Sergio Fonseca


POESIA

“Para quê serve a poesia?”
Se você não entende,
como eu posso te explicar?

Sergio Fonseca

sábado, 10 de agosto de 2013

CUBO MÁGICO

CUBO MÁGICO

Sua vida era feito um cubo mágico que
acertava de um lado e estragava do outro.
Ela sonhava com coisas simples e frugais:
Um cobertor de orelha, um amor, uma família,
filhos que abraçaria sorrindo pelo resto da vida.
Contudo, nada!

Sentia a vida como as folhas das árvores que
caem solitárias numa tarde cinza de outono,
ou os grãos de areia numa ampulheta lenta e rarefeita.
Trazia consigo um tic-tac intermitente na cabeça;
uma espécie de bomba relógio  que sempre
lhe anunciava a vida por um triz.

Um dia, decidiu ser feliz com urgência voraz!
Levantou-se do sofá ligeira, num salto.
Abandonou definitivamente aquela maldita janela
através da qual via a vida passar inócua,
sem graça, sem banda e sem moços.
Pintou a boca, perfumou o corpo e coloriu a alma:
“Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí.”


Sérgio Fonseca

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

MEU JARDIM DO ÉDEN

MEU JARDIM DO ÉDEN

Algumas pessoas são preciosas,
lindas como pequenas sementes que
se transformam em árvores frondosas.
Para essa gente, quanto mais o tempo passa,
mais a beleza insiste em fincar nelas as suas raízes.
De tal forma é, que elas parecem ter sido regadas
no silêncio das noites com o orvalho do encantamento,
com a chuva mansa da formosura, misturada
aos primeiros raios de sol das belas manhãs.

Uma espécie de milagre divinal!
Gente bonita de se ver, de se admirar...
Bonita por fora, bonita por dentro,
a qualquer hora, em qualquer momento...
Não necessitam recorrer a artifícios,
cirurgias, plásticas ou botox.
São lindas porque são e ponto.
Trazem consigo suas marcas, suas rugas,
suas dores e alegrias, suas histórias de vida,
que um dia se cruzaram com as minhas,
como uma espécie de graça celestial.

Gente bonita, com um cheiro bom de terra molhada,
que invade as narinas e encharca a alma de ternura!
Terra fértil, abençoada e que produz aos montes.
Nessas horas percebo que o meu coração é
um parque florestal, um Éden divino,
repleto de gente bonita que plantei dentro de mim:
Jatobás, Araucárias e Buganvilles de todas as cores.
Meus amigos, minhas amigas, meus amores.
Porém, neste vasto jardim não há lugar para serpentes.
Há apenas lugares para essa espécie rara de gente,
com a qual  celebro a vida e brindo a amizade.


Sérgio Fonseca