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Nosso objetivo neste espaço virtual é refletir sobre o comportamento humano no dia a dia. Para isso, utilizamos a força da palavra através de poesias, crônicas, vídeos e áudios. Pode entrar e ficar a vontade: A casa é sua!







domingo, 18 de novembro de 2012

CARTA À ÁFRICA


CARTA À ÁFRICA

Ah! Tu que pariste os teus,
tendo por testemunhas a lua e as estrelas:
Lindos como a noite, aconchegados ao teu seio.

Ah! Tu que sonhaste com os teus
banhados em tuas águas:
Correndo livres sob o sol por entre as tuas matas.

Ah! Tu que choraste aflita
enquanto testemunhavas impotente
o laço, a rede e a corrente do algoz invasor.

Ah! Tu que de longe ouvias um canto soluçado
e um lamento que feito flecha cruzava os mares,
tendo por alvo o teu coração.

Ah! Tu que te deleitaste nas dores do parto
e assistias perplexa a dispersão.
Sangravas a cada açoite: Ardias sob sol, suor, e sal.

Bem sei que ainda choras
pela fome que te campeia,
pelos mutilados de Angola,
pela pobreza da Etiópia,
pela miséria de tuas crianças e
pelo sofrimento de teus herdeiros
em continentes distantes.
 
Mas saibas que por aqui
teus filhos resistem em lutas e festas:
Samba, quizomba e batuque;
maracatu, maculelê, capoeiras e rabos de arraia.

Teus filhos trazem consigo:
A luta de Zumbi dos Palmares;
a revolta de João Cândido;
a serenidade e a classe de Paulinho da Viola;
o canto visceral de Clementina de Jesus;
o sorriso e o talento de Zezé Mota;
a poesia e a palavra encantada de Elisa Lucinda;
a nobreza e a força de Abdias Nascimento.

Teus filhos trazem consigo:
A malemolência da mulher negra,
que no caminhar equilibra a lata e
na subida da ladeira não deixa cair;
o balé do gari Renato Sorriso,
que num momento de glória
é capaz de arrancar aplausos na avenida:
Aplausos merecidos a cada dia!

Teus filhos trazem consigo:
Os moleques de pés no chão
que rolam a bola e driblam a fome
comemorando a cada gol suado.

Eles trazem no peito a esperança de uma nação:
Sem vergonha da sua história,
Sem vergonha da sua cara,
Sem vergonha da sua raça.

Por tudo isso,
alegra-te e orgulha-te mãe África!

Sérgio Fonseca


Dedico esta poesia aos meus filhos Letícia e Filipe na expectativa de que eles se orgulhem do seu passado; lutem pelo seu presente; e se encaminhem para o futuro plenos de esperança. Filhos, façam uma nova história!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

AMOR DE ÍNDIO



AMOR DE ÍNDIO

O amor é coisa
de deixar a gente tonto.
Tanto, que me vejo índio
ao ponto de amar a sua mata,
de querer desbravar a sua floresta,
percorrer trilhas que me levem as suas fontes,
só pra beber das suas águas.

Minha flor de formosura,
deixa eu deitar minha piroga no seu leito?
Deixa eu navegar nesse afluente
turbulento sem destino?
Mergulhar nessa pororoca de segredos
e provar as doces águas do seu rio...
Navegar eu preciso!

Meu amor,
não me leve a mal,
mas a carne é fraca
e a fome é tanta,
que eu sou índío canibal:
Meu Peri em sua Ceci,
pirirí e pororó e etc e tal.

Retesado
o arco do desejo,
entre trocas de carícias
e milhares de beijos...
Disparo a minha flecha,
que rasga a sua fresta,
acertando no ponto:
E a gente faz festa!

Sérgio Fonseca

 


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A LUA QUE ME TOCA



A LUA QUE ME TOCA
Noite alta
e mal dormida.
No céu a lua,
escandalosamente cheia e prateada,
insiste em me visitar.
Lua que de tão linda
não me sai do pensamento;
me revira pelo avesso,
entre sonhos de desejos,
e torna a me revirar.
 
Ah, minha lua de prata,
já que me tens
por completo
em tuas mãos,
que me sintas...
Que me toques
de olhos fechados
ou bem abertos;
que te percas em carícias
e me devores com febre.
 
Ah, minha lua de encantos...
Ilumines o meu corpo
por inteiro;
reveles a mim
os teus segredos;
sacies em mim
a tua sede;
encharques de ti
a minha alma
e me faças transbordar!
 
Sérgio Fonseca


sábado, 10 de novembro de 2012

CORES DE MATISSE



CORES DE MATISSE

Falo do que vejo,
do que me toca,
do que eu sinto e
de tudo aquilo que me provoca.

Por isso, amo as cores de Matisse!
Na alegria me entusiasmam
e na tristeza me colorem.

Nele cada cor tem vida própria
traduzindo o meu espírito,
norteando o meu desejo.

Amo as cores de Matisse
porque  elas me pertencem.
Antes mesmo que delas eu soubesse...
Já me pertenciam!


Sérgio Fonseca

 

 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

BATUQUES DE ÁFRICA




BATUQUES DE ÁFRICA

Gosto de todo batuque
que vem de longe,
que vem de antes do ontem;
que antecede as eras,
deste som que gera a vida
e pulsa na batida do meu coração.

Gosto do som das tribos,
dos  atabaques, dos atributos, 
dos badulaques que vem de África.
Rebolos, bantos, malês, iorubás:
Batuques, danças, cantos e tranças.
Tudo é cor e beleza: Tudo é festa!

Gosto de tudo que encanta,
se movimenta, dança
e me faz dançar.
Gosto do som do timbau,
do pandeiro, do tantan,
do maracatu e do tambor de crioula
convidando pra entrar na roda.

Gosto das cadeiras da crioula
que rebola e faz graça.
Gosto, na avenida, quando ela passa
me sorri e me faz bem:
Gosto tanto de você, meu bem!

Gosto de tudo que africaniza
e carnavaliza a alma brasileira.
Amo um batuque de primeira,
marcado na palma da mão:
A alegria é a força identitária
da nossa nação!

Sérgio Fonseca


sábado, 3 de novembro de 2012



 MINHA SANTA PACIÊNCIA

Basta.
A todo instante, a toda hora,
encontro pelo caminho
um conselheiro da vida alheia:
Esses “sábios de enciclopédia”.
Esses que nunca tiveram
a coragem de escrever
a própria história ou
tampouco de viver a própria vida.
Esses que mal sabem de si,
mas insistem em querer
nos dar seus “bons conselhos”.

Ando tão sem paciência
com esse tipo de gente...
Gente que se sente o máximo;
que se acha “o cara”;
que inventou a roda;
que descobriu o fogo;
que sabe de tudo;
que tem a cura
pra todos os males;
e que se acha a bala de prata
que matou o bandido.
No que depender de mim
estão todos... !

Detesto esse tipo de gente...
Que não vive a própria vida;
que não se permite;
que não tenta por medo;
que não se liberta;
que não tem opinião própria;
que não se atira e nem ousa;
que não corre um risco;
que se conforma com tudo;
que engole e cospe regras;
que não sabe de nada,
mas pensa saber de tudo
e quer dar conselhos
pra Deus e o mundo!

Deus nos livre destas pragas
e dos “senhores da advertência”:
Tome vergonha;
tome tino;
tome juízo;
tome descência;
tome jeito;
tome cuidado;
tome tenência...
Minha santa paciência
já não aguenta mais!

E que fique bem claro que eu
jamais desprezo um bom conselho.
Entretanto, “os bons conselhos”
vindo dessa gente...
Faça-me o favor:
Que vão todos tomar no... !

Sérgio Fonseca