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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

EU-MENINO-PAI



EU-MENINO-PAI


Eu, menino ainda,
do pinto pequeno,
do bico de chaleira
que prendia no fechecler,
e me fazia ir à lua e por lá ficar;
menino que dona Alzira, minha avó,
vinha correndo socorrer,
enxugando carinhosamente
as lágrimas que rolavam
pelas bochechas rechonchudas,
já queria ser pai!

Eu, menino ainda,
quase sem testículos,
sem ao menos uma gota de esperma,
ainda sem amor de infância,
casado com as bonecas da minha prima,
brincando com os amigos,
pulando carniça, jogando bola
e andando de bicicleta...
Já sonhava em ser pai!
 
Eu, menino ainda,
aprendendo o ABC na casa de dona Luci,
conheci o meu primeiro amor de carne e osso:
Rosemere foi a minha primeira professora!
Com ela eu iria me casar e ter filhos,
se não fosse o fato dela já ser casada
com o filho da dona Luci
e ter os seus próprios filhos.
Sonhei em ser pai ao lado dela,
mas ela não entendeu a minha história de amor:
Nunca me disse uma palavra a respeito!

Eu, menino ainda,
sem pai,
sem o nome do pai,
sem um “feliz aniversário”,
com a certidão de nascimento em branco,
com uma ausência infinita,
com uma dor só minha,
com um silêncio sufocante,
com milhares de perguntas sem respostas,
mas por querer fazer tudo diferente...
Continuava sonhando em ser pai!

Eu, menino ainda,
agora um pouco crescido,
com espinhas no rosto
e pelos no corpo,
conheci amores:
Deitei-me em suas camas,
amei sem saber como se ama,
aprendi como se faz fazendo,
troquei carícias e me deleitei,
mas nunca sonhei em ser pai de qualquer jeito:
Por isso nunca fui e jamais serei!

Hoje, homem-menino ainda,
casei com a mulher que amei e escolhi.
Gerei uma menina no útero que não tenho
e quando ela nasceu quem chorou fui eu!
Ainda ontem brincávamos de boneca, de casinha...
Hoje ela já sonha com amores!
No mesmo útero, gerei um menino:
Filho do meu coração!
Exatamente hoje, 4 de outubro,
ele completa 10 anos de idade.
E eu que nunca ganhei do meu pai
um parabéns sequer...
Posso dizer ao meu filho:
Feliz aniversário!

Eu, menino ainda,
a cada dia aprendendo a ser pai.

Sérgio Fonseca



 

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Blan,falei com o Filipe que tinha feito uma poesia pra ele. Quando li pro meu filho ele chorou emocionado e me deu um abraço! E eu falei: Filho, eu também chorei quando escrevi. Não sei de onde me vem as palavras...

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  2. Histórias, meu amigo, histórias que viram histórias de poesia, uma poesia de história...

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  3. SÉRGIO,aprender poesia ,não tem coisa melhor do que compartilhar das suas!
    parabéns!

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