PAISAGEM
NATURAL
Cruzou
a ponte Rio-Niterói
como
lhe era de costume.
Naquele
dia, ao descer na
Avenida
Marquês do Paraná,
ficou
pasmado diante da cena
assistida
pela janela do carro,
no
sinal vermelho.
Viu
um homem de boa aparência,
trazendo
no ombro sua caixa de isopor,
que
por entre os carros, no sinal, gritava:
“Água!
Ô água! Água só um real!”
O
motorista não entendeu nada.
Tudo
estava fora de lugar!
Era
uma cena rara, raríssima.
Desatou
a interrogar-se de modo recorrente:
“O
que este homem está fazendo aí?
Será
que ele está desempregado?
Será
que ele tem mulher, filhos,
e
família para sustentar?”
Compadecido,
tocado e comovido
o
motorista quase foi as lágrimas.
De
repente, uma luz brilhou e
com
ela novos questionamentos:
“Por
que eu me compadeço deste homem,
quando
na verdade há tantos outros homens,
neste
mesmo sinal, vendendo água, flores,
chocolates
e outras tantas coisas todos os dias?”
Foi
quando o motorista caiu em si:
O
vendedor de água era branco, loiro.
Já
os demais ambulantes,
em
sua grande maioria negros,
faziam
parte daquela paisagem social cotidiana
como
se aquele fosse o único lugar
que
lhes coubesse ou lhes restasse.
Há
muitas coisas
neste
mundo de meu Deus
que
a gente quase não vê...
que
a gente quase
não
consegue enxergar...
Apenas
naturaliza.
Sérgio
Fonseca
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