JUREMA
NA FAXINA
Jurema, dona de casa zelosa ao extremo, tinha
a certeza que um dia iria para o céu. Dava conta da casa de quatro quartos, de
seus três filhos e do marido Benedito: Mas tudo isso aos berros! Ela até podia
ir para o céu, mas fazia da casa um desassossego. Não podia ver nada fora do
lugar que começava a ladainha:
-
De quem são estas sandálias? Olha
os livros em cima da mesa! A
toalha embolada sobre a cama! De
quem é o prato sobre a pia?
A mulher não parava por nada. Até o
Criador descansou no sétimo dia... Porém, Jurema não. Isso por escolha própria.
Para ela não havia sábados, domingos, nem feriados.
Um dia, estressada enquanto arrumava a
casa, sofreu um infarto fulminante. Caiu durinha na sala, agarrada ao cabo da
vassoura. Se havia algo nesta vida que ela era apegada, era a maldita vassoura
da qual não se apartava. Parece até que fazia um curso intensivo de bruxa. Jurema
bateu as botas sem levantar poeira. A família chorou... Mas deu graças a Deus!
A certeza de Jurema se cumpriu: Acordou
no céu e deu de cara com o Todo Poderoso! Com a vassoura nas mãos, olhou para
um lado e para o outro e viu milhares de anjos de todos os tipos. Ao redor do
trono do Criador, haviam arcanjos e querubins. A mulher, abraçada a vassoura,
pensou:
-
Lá em casa era só o Benedito e as crianças.
Quando Jurema se deparou pelo meio do
caminho com as harpas, as flautas e os
símbalos sonoros, gritou:
-
Quem foi que deixou isso aqui fora do lugar?
Arcanjos e querubins tremeram; as asas
dos anjos murcharam; o coro celestial calou congelado. Houve um profundo
silêncio no céu, durante três minutos. Até que, de repente, Jurema esbravejou:
-
Quero um balde, pano de chão e desinfetante com urgência!
Perguntou onde ficavam o banheiro, a
cozinha e os quartos. Teve a cara de pau de distribuir aventais, baldes, panos
de chão e vassouras para os arcanjos e querubins. Por fim, exigiu “bom ar” para
os aposentos divino. E o céu já não era mais o mesmo...
Foi então que o Filho do Homem disse:
-
Basta! Vade retro Satanás!
E
a paz tornou a reinar no céu.
Hoje
em dia, dizem os anjos, ela mora com o capeta, mas faz da vida dele um verdadeiro
inferno!
Sergio
Fonseca
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